Mudanças e culturas organizacionais diante de emergências em saúde : impactos e aprendizados da pandemia de covid-19 sob a percepção de profissionais da Atenção Primária à Saúde

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2024
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Fundação João Pinheiro
Resumo
A pandemia de covid-19, iniciada em 2020, foi a propulsora de inúmeras mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais no cotidiano de populações de todo o mundo. Com milhões de casos acumulados ao longo do período pandêmico, retratando uma das mais desafiadoras emergências em saúde do século XXI, no Brasil, a crise sanitária exigiu ações rápidas e eficientes para evitar o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS). A gestão da saúde pública, já complexa, enfrentou um súbito processo de alteração dos protocolos de trabalho e das demandas estratégicas, exacerbando a pressão sobre os profissionais e gestores de saúde. Nesse contexto, a rede de Atenção Primária à Saúde (APS) se destacou como crucial para a prevenção de agravos e a redução de danos, sendo a principal porta de entrada para o sistema de saúde nos municípios, coordenando a integralidade do cuidado e articulando com outros níveis de atenção para atender às necessidades de saúde da população, além de ajudar a evitar a ocupação desnecessária de leitos hospitalares. Diante desse cenário de significativas mudanças, a capacidade de adaptação das organizações é influenciada por pressupostos culturais compartilhados por seus membros, determinando situações de resistência ou flexibilidade às transformações. Esse panorama também evidencia processos de aprendizagem organizacional ao demonstrar a ocorrência de ciclos de leitura e interpretação do ambiente, tomada de decisões e avaliação de erros e acertos, até a incorporação destes últimos à rotina organizacional, relacionando-se à mudança e construção de aspectos culturais. Destarte, a dissertação investiga os impactos da pandemia de covid-19 na gestão da saúde pública de Belo Horizonte, focando nas transformações organizacionais na rede de Atenção Primária à Saúde. A pesquisa se concentra na Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA-BH), buscando compreender como as mudanças provocadas pela pandemia foram assimiladas e incorporadas às práticas organizacionais sob a perspectiva dos profissionais da APS, em especial os que integram os grupos de burocratas de nível de rua e burocratas de médio escalão. Os objetivos do estudo contemplam a identificação dos efeitos da pandemia na rotina dos membros da organização, as mudanças nas práticas organizacionais, os elementos culturais que influenciaram essas transformações e os aprendizados consolidados e aplicados em uma nova emergência em saúde no município. Buscou-se, ainda, a identificação de similaridades e diferenças culturais entre os dois grupos abordados na pesquisa, no intuito de analisar as possíveis subculturas presentes na organização. A metodologia adotada se baseia em um estudo de caso qualitativo e exploratório, utilizando dados coletados por meio de revisão de literatura, levantamento documental, questionários e entrevistas semiestruturadas, utilizando-se da análise de conteúdo para interpretar as percepções dos diferentes grupos dentro da instituição. Constatou-se reflexos das mudanças, especialmente, no nível de sobrecarga e estresse dos profissionais, na informatização e gestão de processos de trabalho, nas dinâmicas de atendimento dos usuários na Atenção Primária à Saúde e nas formas de comunicação e integração entre as equipes e níveis de atuação. Apesar de uma identidade cultural coletiva compartilhada entre os grupos da pesquisa voltada para a missão organizacional de salvar vidas, verificou-se a distinção de percepções e interpretações, influenciadas por elementos culturais que se relacionam com as características particulares dos níveis de burocracia em que cada grupo se encontra. Concluiu-se, ainda, pela ocorrência de processos de aprendizagem na organização durante e após a pandemia, potencializados por maior diálogo, reflexão crítica e pensamento sistêmico dos profissionais, resultando na consolidação de práticas que deram certo. Foi possível constatar a aplicação dos aprendizados da pandemia em função do acontecimento de uma nova emergência em saúde durante a realização da pesquisa, dessa vez de arboviroses, sendo resgatadas as práticas que se mostraram eficientes na emergência anterior. Entre as limitações da pesquisa, destaca-se a falta de aprofundamento nas percepções dos burocratas de nível de rua devido ao instrumento de coleta de dados e ao tempo limitado para entrevistas mais detalhadas. O tempo decorrido desde o início e fim da pandemia e a coincidência com a epidemia de arboviroses também podem ter influenciado as percepções dos profissionais. Sugere-se que novos estudos explorem as relações entre mudança, cultura e aprendizagem organizacional em outros contextos, para verificar a aplicabilidade dos resultados encontrados e possibilitar comparações que enriqueçam o entendimento desses fenômenos em diferentes organizações de saúde.

Resumo
The covid-19 pandemic, which began in 2020, was the driver of countless social, economic, political and cultural changes in the daily lives of populations around the world. With millions of cases accumulated throughout the pandemic period, portraying one of the most challenging health emergencies of the 21st century, in Brazil, the health crisis required quick and efficient actions to avoid the collapse of the Unified Health System (SUS). Public health management, already complex, faced a sudden process of changing work protocols and strategic demands, exacerbating the pressure on health professionals and managers. In this context, the Primary Health Care (APS) network stood out as crucial for preventing injuries and reducing harm, being the main gateway to the health system in municipalities, coordinating comprehensive care and articulating with other levels of care to meet the population's health needs, in addition to helping to avoid unnecessary occupancy of hospital beds. Faced with this scenario of significant changes, the adaptation capacity of organizations is influenced by cultural assumptions shared by their members, determining situations of resistance or resilience to transformations. This panorama also highlights organizational learning processes by demonstrating the occurrence of cycles of reading and interpreting the environment, making decisions and evaluating mistakes and successes, until the incorporation of the latter into the organizational routine, relating to the change and construction of cultural aspects. Thus, the dissertation investigates the impacts of the covid-19 pandemic on public health management in Belo Horizonte, focusing on organizational transformations in the Primary Health Care network. The research focuses on the Belo Horizonte Municipal Health Secretariat (SMSA-BH), seeking to understand how the changes caused by the pandemic were assimilated and incorporated into organizational practices from the perspective of APS professionals, especially those who are part of groups of street-level bureaucrats and mid-level bureaucrats. The objectives of the study include identifying the effects of the pandemic on the routine of the organization's members, changes in organizational practices, the cultural elements that influenced these transformations and the learning consolidated and applied in a new health emergency in the municipality. It also sought to identify cultural similarities and differences between the two groups covered in the research, in order to analyze the possible subcultures present in the organization. The methodology adopted is based on a qualitative and exploratory case study, using data collected through literature review, documentary survey, questionnaires and semistructured interviews, using content analysis to interpret the perceptions of different groups within the institution. Reflections of changes were observed, especially in the level of overload and stress of professionals, in the informatization and management of work processes, in the dynamics of user care in Primary Care and in the forms of communication and integration between teams and levels of activity. Despite a collective cultural identity shared between the research groups focused on the organizational mission of saving lives, there was a distinction in perceptions and interpretations, influenced by cultural elements that relate to the particular characteristics of the levels of bureaucracy in which each group is found. It was also concluded that learning processes occurred in the organization during and after the pandemic, enhanced by greater dialogue, critical reflection and systemic thinking by professionals, resulting in the consolidation of practices that worked. It was possible to verify the application of learning from the pandemic due to the occurrence of a new health emergency during the research, this time concerning arboviruses, with the practices that proved to be efficient in the previous emergency being rescued. Among the limitations of the research, the lack of depth in the perceptions of street-level bureaucrats stands out due to the data collection instrument and the limited time for more detailed interviews. The time that has passed since the beginning and end of the pandemic and the coincidence with the arbovirus epidemic may also have influenced the professionals' perceptions. It is suggested that new studies explore the relationships between change, culture and organizational learning in other contexts, to verify the applicability of the results found and enable comparisons that enrich the understanding of these phenomena in different health organizations.

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MAGALHÃES, N. D. Mudanças e culturas organizacionais diante de emergências em saúde: impactos e aprendizados da pandemia de covid-19 sob a percepção de profissionais da Atenção Primária à Saúde. 144 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) - Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho da Fundação João Pinheiro, 2024.
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